O impacto social do microcrédito e a pauta ESG – Inclusão social e produtiva

Jandaraci Araújo

microcrédito

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     Durante o tempo que estive à frente da operação do Banco do Povo Paulista (2019 – 2020), tive a oportunidade de acompanhar, in loco, o impacto social do microcrédito, mesmo que de forma indireta, pois não se trata de um benefício de transferência de renda, possibilita o aumento de renda e redução das condições de vulnerabilidade. Por ser uma ferramenta de inclusão financeira com impacto múltiplo, avaliada sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável, possibilita a geração de renda e trabalho, principalmente públicos em situação de vulnerabilidade temporária, em decorrência do desemprego, por exemplo. E é com esse viés que se estabelece a conexão com a pauta ESG, com ênfase para o Social.

    O “S” da sigla mais famosa do mercado – o social, deve ser visto muito além de um modelo assistencialista focado em doações de recursos, ou programas de voluntariado, por exemplo. Dentre as várias formas de atuar no social, vale destacar duas que são: ações que visam reduzir as vulnerabilidades da comunidade ao entorno e o cumprimento dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) . Com essa perspectiva, os programas sociais de qualificação empreendedora aliados com o microcrédito, podem por tabela auxiliar no cumprimento de pelo menos sete dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU : acabar com a pobreza (ODS 1),agricultura sustentável (ODS 2), igualdade de gênero (ODS 5), promover o crescimento econômico e o trabalho decente (ODS 8), promover a industrialização, fomentar a inovação e construir infraestruturas (ODS 9), redução da desigualdades(ODS 10) e revitalizar parcerias e meios de implementação(ODS 17) .

E por que fortalecer o empreendedorismo? Porque é o meio mais eficaz para promover inclusão social e produtiva, na cidade e no campo, em todas as faixas etárias, empodera as pessoas possibilitando que sejam protagonistas na construção do seu futuro. E para que o impacto do fomento ao empreendedorismo seja mais efetivo e abrangente, o microcrédito orientado tem papel fundamental.

Para contextualizar, vou citar dados do relatório GEM 2020, o número de empreendedores iniciais motivados por necessidade saltou de 37,5% para 50,4%, o mesmo nível de 18 anos atrás. Além disso, 82% dos entrevistados alegaram que a motivação para começar um novo negócio foi a solução encontrada para ganhar a vida porque os empregos estão escassos, taxa de desemprego em alta (14,4%), e sem perspectiva de melhora no curto e médio prazo, diante de tantas crises que assola o país, além da pandemia. Empreender por necessidade durante uma pandemia é tentar vender o almoço para pagar o jantar. E ter acesso ao microcrédito, para esse público, pode ser um dos principais fatores de sucesso do empreendimento.

Várias empresas e fundações já atuam, através de suas áreas de programas sociais na pauta da capacitação empreendedora, entretanto o acesso a crédito não é contemplado, o que acaba restringindo uma maior efetividade e perenidade das iniciativas. O microcrédito aliado a outras iniciativas, pode compor o leque de ações de investimento social, fortalecendo as práticas ESG de qualquer organização. Uma ferramenta de combate às desigualdades que pode melhorar de forma significativa a economia local e consequentemente toda uma comunidade.

Como acredito que para promover transformação social é preciso fazer junto, reforço o papel de parcerias e ações colaborativas para ações de impacto socioeconômico, entre o público e o privado, e principalmente entre empresas, fundações, bancos e fintechs. Atuar em parceria para criar soluções de microfinanças, que contemplem as garantias do crédito, taxas e custos coerentes com a realidade dos beneficiados.

Nessa minha jornada entre o público e o privado, tive a oportunidade de realizar várias parcerias que permitiram fomentar o empreendedorismo e dar acesso ao crédito a diferentes públicos. Cada crédito liberado para uma costureira, para uma artesã, um imigrante, um egresso do sistema prisional (oriundo dos programas de empregabilidade e qualificação), impactava negócios e famílias, gerando renda e trabalho para famílias inteiras.

As empresas devem lembrar da importância de atuar de forma estratégica para fazer impacto social positivo e principalmente que só teremos um ambiente de negócios próspero com mais inclusão e menos desigualdades.

*Jandaraci Araújo é Conselheira de Administração e cofundadora do Conselheira 101. É conselheira emérita do Capitalismo Consciente Brasil. Foi Subsecretária de Empreendedorismo e Diretora do Banco do Povo em São Paulo (2019-2020)
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