Dia 7 de julho é o Dia Mundial do Chocolate. Mas o consumo desse alimento coloca nossa saúde em risco? É de se pensar que, por serem feitos de cacau, os doces sejam benéficos para a saúde, mas, de acordo com a médica nutróloga e professora da Associação Brasileira de Nutrologia Dra. Marcella Garcez, não é bem assim que funciona.
“O cacau, por si só, é realmente benéfico, pois é rico em polifenóis, substâncias que, se consumidas com frequência, possuem uma série de benefícios à saúde, incluindo poderosa ação antioxidante e preventiva da formação de radicais e efeito protetor contra os danos ao DNA das células. Além disso, o ingrediente possui propriedades analgésica, vasodilatadora, antimicrobiana, anti-inflamatória, anticarcinogênica (previne o aparecimento de câncer) e antiaterogênica (previne o acúmulo de gordura na parede das artérias)”, destaca a especialista.
O problema é que, mesmo com os avanços da indústria no que diz respeito a produção do chocolate, o processamento das sementes de cacau para transformá-las na guloseima pode levar a perda variável dos compostos fenólicos e, consequentemente, dos efeitos benéficos do ingrediente.
Amargo
Então, para garantir a manutenção dos benefícios do cacau, o recomendado é que você opte por chocolates com maior concentração de cacau e menor concentração de açúcar.
“Nesse sentido, o chocolate ideal para ser consumido é aquele que possui, no mínimo, 65% de cacau e traz cacau ou massa de cacau como primeiro item da lista de ingredientes que aparece, geralmente, na parte de trás da embalagem. Quanto maior a concentração de cacau, maior a quantidade de polifenóis e a atividade antioxidante do alimento. Por isso, vale apostar no chocolate amargo”, recomenda a médica. “O chocolate amargo é a melhor opção inclusive para crianças, que, apesar de serem resistentes às versões mais amargas devido ao paladar infantil, devem ser educadas desde pequenas a evitarem o excesso de açúcar na alimentação. Sempre lembrando que o cacau é contraindicado para crianças menores de 12 meses de idade e o Ministério da Saúde não recomenda o consumo de açúcar para crianças menores de dois anos.”
Chocolate ao leite
Ao contrário do chocolate amargo, o ao leite possui uma concentração bem maior de açúcar do que de cacau, logo, quando consumido indiscriminadamente, pode favorecer o surgimento de condições relacionadas à ingestão excessiva de açúcar, como diabetes e aterosclerose.
“Para que o chocolate ao leite mantenha os benefícios do cacau é necessário que seja composto por, no mínimo, 35% do ingrediente, possuindo, nesse caso, metade da capacidade antioxidante do chocolate amargo. O problema é que, segundo resolução da Anvisa, um chocolate brasileiro precisa conter apenas 25% de cacau para ser considerado chocolate, concentração abaixo da necessária para realmente conferir benefícios à saúde. Mas a boa notícia é que novos projetos que sugerem o aumento da concentração do ingrediente nos chocolates brasileiros estão surgindo no Congresso”, ressalta a especialista.
Com relação ao leite na composição, esse aparece em quantidades insuficientes para substituir alimentos lácteos e oferecer benefícios ou malefícios à saúde. De qualquer forma, esse tipo de chocolate não é recomendado para aqueles que possuem intolerância ou alergia aos componentes do leite, que devem optar pelas versões sem lactose.
Chocolate Ruby (rosa)
No lugar do chocolate ao leite, uma opção interessante para ser consumida é o rosa, que tem se tornado tendência na internet e nas prateleiras dos mercados. Feito a partir da semente do cacau rubi, esse chocolate distingue-se dos demais devido a sua coloração rosada natural, não possuindo corantes artificiais em sua composição.
“O chocolate rosa se destaca pelo seu sabor diferenciado, sendo mais cremoso, frutado e adocicado, com um leve toque cítrico. Além disso, o chocolate feito a partir do cacau rubi possui uma quantidade maior de polifenóis do que o chocolate convencional, pois os flavonóis presentes no ingrediente são mantidos até o produto final devido ao processo de fermentação especial pelo qual as sementes passam para que não percam o sabor e a coloração natural”, explica a Dra. Marcella.
Pela maior quantidade de polifenóis, o chocolate rosa mostra-se uma boa opção para quem quer manter a saúde, desde que não seja muito rico em açúcar e gorduras. O único problema do chocolate rosa é o seu preço, pois tende a ser bem mais caro do que o chocolate amargo.
Então, para quem quer um chocolate ainda mais saudável do que o amargo sem gastar muito, vale a pena optar pelas opções que incluem oleaginosas, como castanhas, nozes, avelãs e amendoins.
“Apesar de serem calóricas, as oleaginosas adicionam nutrientes ao produto, como o ômega-3, que ajuda no controle do colesterol, possui propriedades anti-inflamatórias, melhora a circulação e o desempenho cognitivo”, afirma a nutróloga.
Chocolate branco
Já o chocolate branco, queridinho de muitos, deve ser evitado. Isso porque, segundo a médica, o branco é fabricado a partir da manteiga de cacau, sendo composto basicamente de gordura, açúcar, leite e aromatizantes.
“Pelo fato de não ser feito com a massa de cacau, mas sim com a gordura da fruta, o chocolate branco não deveria nem ser considerado um chocolate, sendo, na verdade, apenas um doce. Dessa forma, não possui funcionalidades e, se for consumido em excesso, pode trazer danos à saúde”, alerta.
Quem não abre mão do chocolate branco pode optar pelas versões sem açúcar para minimizar seus malefícios a saúde, sem esquecer que a guloseima ainda é rica em gorduras, podendo até mesmo trazer uma concentração maior de lipídios, para suprir a falta do açúcar.
“Chocolates recheados e que trazem ingredientes que agregam ainda mais açúcar ao produto, como doce de leite e brigadeiro, também devem ser evitados.”
Mas atenção!
Mesmo que você opte pelo chocolate amargo é importante tomar cuidado com o consumo excessivo, pois, independentemente da concentração de cacau, o chocolate ainda tem açúcar e gorduras saturadas.
“Existem, claro, as opções sem açúcar, adoçadas com edulcorantes, sendo assim ideais para pessoas que sofrem com diabetes ou estão em dieta de emagrecimento. Porém, o consumo desse tipo de chocolate também não deve ser indiscriminado, já que ainda contém calorias e gorduras”, ressalta a Dra. Marcella.
Disciplina e controle do consumo
No final das contas, disciplina e controle do consumo diário deve ser o lema. Dessa forma, o ideal é consumir de 25g a 50g de chocolate por dia, dando preferência às opções com maior concentração de cacau, como o chocolate amargo e o chocolate rosa.
“Seguindo essas dicas, a guloseima pode ser consumida sem culpa, não havendo necessidade de estratégias para inibir o apetite antes do consumo ou para diminuir o índice glicêmico do alimento. Isso porque, no geral, o chocolate possui baixo índice glicêmico e, se composto por mais de 65% de cacau, também é um alimento funcional, possuindo índice glicêmico ainda mais baixo. E para quem quer manter bons hábitos alimentares, uma boa estratégia é consumir frutas frescas, como as frutas vermelhas, que combinam muito bem com chocolates”, finaliza a Dra. Marcella Garcez.
Dra. Marcella Garcez
Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. CRM-PR 12559 e RQE 16019.
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