Médicos e enfermeiros se preocupam com infodemia de notícias falsas nas mídias sociais e fazem um apelo:
“Pensem antes de compartilhar notícias sem identificar a veracidade delas”
As informações propagadas em redes sociais, sem embasamento científico, tornaram sua rotina mais dura: além de arcarem com a carga física, psíquica e emocional, seu trabalho vem sendo ameaçado e atrapalhado por familiares ou pacientes que consomem, acreditam e compartilham conteúdos equivocados.
Segundo uma pesquisa realizada pelas empresas MindMiners e Avaaz, 70% dos brasileiros buscam informações sobre o novo coronavírus uma ou mais vezes por dia e, apenas 40% consideram redes sociais pouco confiáveis.
Impactos da Infodemia e desinformação
Alguns dos impactos causados pela infodemia de notícias falsas no dia a dia dos profissionais de saúde envolvem questionamentos sobre potenciais terapias, boatos como os que escovar os dentes com bicarbonato ou tomar desinfetante combatem o coronavírus, conflitos com pacientes que gostariam de ter recebido a medicação na qual acreditam porque leram na Internet, desconfiança entre médico e famílias que cobram procedimentos divulgados nas mídias sociais como bem-sucedidos e até ameaças de familiares de obrigar o médico a prestar contas, caso algo aconteça com o paciente.
“A desinformação é um desserviço da sociedade. Nós, da área da saúde, estamos lidando com circunstâncias extremas na linha de frente de hospitais de campanha como se tivéssemos em meio a uma guerra, cuidando de inúmeros doentes em situações delicadas. Essa alta gama de informações não verificadas que vem inundando as mídias sociais, faz com que familiares e pacientes opinem nos processos de tratamento como se fossem os próprios especialistas, muitas vezes exigindo uma prescrição ou um procedimento específico que não são indicados e nem benéficos em determinadas situações. Não trabalhamos com achismos e isso atrapalha o nosso dia a dia porque gastamos uma energia e um tempo que não temos com esse conflito com familiares. Estamos cumprindo o nosso juramento de fazer o bem aos seres humanos com responsabilidade e evidências científicas e também o nosso papel de orientar os pacientes com o nosso conhecimento e especialidade”, afirma Karina Oliani, médica socorrista que está na linha de frente no hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo.
Ela também é fundadora da Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura, e Presidente do Instituto Dharma.
Outro relato é o da Dra. Bruna Silveira, que apoia comunidades periféricas no combate à pandemia e fala em tristeza e desespero por conta das informações falsas disseminadas nas mídias sociais.
“A desinformação me preocupa porque já são mais de 100 mil mortes notificadas no Brasil. Sinto tristeza porque vejo tudo isso como uma completa desconexão com a própria vida e com a vida de outras pessoas e porque percebo que o consumo de notícias está se tornando maior e mais importante do que o cuidado com o coletivo. Me desespero ao pensar que, sem as medidas de isolamento e de controle, ficamos cada vez mais longe de sair dessa situação. Faço aqui um apelo: pensem antes de compartilhar notícias sem identificar a veracidade delas”, ressalta a médica e terapeuta de medicina tradicional chinesa e coordenadora do projeto Agentes Populares de Saúde da UneAfro Brasil.
Verificado – Projeto ONU
As informações compartilhadas são transmitidas pelas Nações Unidas, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por agências da ONU.
“Traduzimos para os idiomas locais as informações que recebemos da Organização Mundial da Saúde, confiantes de que faremos a diferença na vida das pessoas. A internet é uma influência poderosa, assim como a televisão. Quando existem fontes de informação fortemente conflitantes, em que uma pessoa deve acreditar e como alguém pode chegar a uma conclusão firme? Acredito ser reconfortante para o mundo que as Nações Unidas permaneçam uma fonte de informações independente e confiável por meio da campanha Verificado, do Departamento de Comunicações Globais.