Por: Benedito Braga
A primeira pergunta que todo mundo se faz quando falamos do rio Pinheiros limpo até 2022 é: o que há de diferente agora para atingirmos essa meta colocada como uma das prioridades da atual gestão pelo governador João Doria? Se tanta coisa já foi feita, o que nos possibilita acreditar em algo que queremos tanto e que seria tão simbólico para São Paulo?
Podemos citar seis fatores que se somam agora, cada um importante em um aspecto, seja político, estrutural, logístico, econômico, técnico e social. O primeiro é a união de várias áreas e órgãos na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA). Isso permite uma atuação mais rápida e conjugada de Sabesp, Emae, Cetesb e Daee, cada um trabalhando com rigor nas suas atribuições. Junte-se isso à disposição das prefeituras de contribuir, e temos uma conjuntura nova e muito propícia.
Não podemos esquecer o estágio que o Projeto Tietê atingiu com investimentos de quase R$ 12 bilhões em 26 anos, com gigantescas obras estruturantes como a ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Barueri e os grandes interceptores e coletores tronco. Nesse aspecto, o Novo Rio Pinheiros também está apoiado em um completo mapeamento da bacia, mostrando os imóveis que precisam ser conectados e as redes que precisam ser feitas para encaminhar o esgoto à ETE Barueri.
Uma inovação no atual programa é a utilização da modalidade de contratação por performance. As empresas serão contratadas com metas a serem atingidas e não simplesmente para construir uma obra. Quanto mais imóveis conectados à rede e esgoto coletado, mais elas vão receber. Esses contratos são parte importante do investimento de aproximadamente R$ 1,5 bilhão da Sabesp nesse programa.
Outro fator são as estações de tratamento de esgoto em áreas informais.
Como existem grandes áreas de ocupação informal nas sub-bacias do Pinheiros, onde há restrições técnicas e legais para que as redes coletoras de esgoto sejam instaladas, essas estações farão o tratamento do esgoto diretamente no córrego, permitindo que as águas sigam mais limpas para o Pinheiros.
E o último, mas, provavelmente, mais importante fator é o atual estágio de amadurecimento da sociedade, que não aceita mais viver em uma situação como essa, convivendo com rios mortos dentro da cidade mais rica do País.
As pessoas, empresas, organizações não governamentais e demais instituições têm demonstrado interesse de apoiar e participar desse processo. E esse senso de propósito é fundamental para que dê certo.
Hoje mais de 20 mil imóveis na bacia hidrográfica do Pinheiros não estão conectados à rede de esgoto, embora o coletor de esgoto passe na frente do imóvel. Esses proprietários de imóveis, muitos de alto padrão, precisam fazer essa conexão para que o esgoto de quase 100 mil pessoas deixe de ir parar no Pinheiros.
Outra questão importante da participação da sociedade é a destinação correta do lixo, responsável por quase metade da poluição do Pinheiros. Não podemos deixar que o lixo fique nas ruas e acabe sendo levado pela chuva para córregos, bueiros e galerias de águas pluviais, seguindo para o rio. Prefeituras e população precisam cuidar disso.
Em suma, hoje temos vontade política, estrutura, recursos, capacidade técnica e engajamento da sociedade nessa causa para chegar a um Pinheiros Limpo em 2022 e um Tietê despoluído também na próxima década. Se podemos aqui parafrasear o filósofo Heráclito, a resposta à nossa pergunta inicial é: o Pinheiros não será mais o mesmo porque São Paulo mudou e porque todos nós não somos mais os mesmos também. Não aceitamos mais essa situação e vamos trabalhar para mudar isso.
Benedito Braga é Presidente da Sabesp e Presidente Honorário do Conselho Mundial da Água