Estudo post-mortem mostra que tecidos periodontais são alvos para Sars-Cov-2
Um estudo realizado por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (FMUSP) descobriram o coronavírus (SARS-Cov-2) no tecido periodontal de pacientes que foram a óbitos vítimas da COVID-19.
De acordo com o estudo publicado no Journal of Oral Microbiology, as autópsias oral, minimamente invasivas, post-mortem, guiadas por videoscópio, foram realizadas por uma equipe multidisciplinar, constituída por um patologista bucomaxilofacial, um otorrinolaringologista e um técnico de autópsia.
O estudo foi realizado em sete pacientes, sendo três homens e quatro mulheres; todos haviam testado positivo para SARS-Cov-2 através dos exames swabs nasofaríngeos.
A idade média dos paciente é de 47,43 anos (8–74 anos), e o número médio de dias entre os primeiros sintomas e a morte foi de 20,14 dias (10–31 dias).
Ainda de acordo com os cientistas, todos os pacientes foram internados na UTI do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com síndrome respiratória aguda grave para suporte ventilatório mecânico.
Todos eram pacientes graves com COVID-19 com períodos prolongados de internação, ventilação mecânica e alimentação enteral em cuidados críticos, necessitando de sondas orais e nasais.
Os sintomas mais frequentes eram febre, tosse e dispneia.
Entre os pacientes, um não tinha comorbidade.
No entanto, seis deles apresentavam doenças preexistentes como: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, neoplasia maligna, doença cardiovascular, asma ou qualquer quadro imunossupressor.
Das sete amostras de pacientes falecidos, cinco foram positivos, apresentaram o coronavírus no tecido gengival.
Dos dois pacientes negativos, um era um menino de 8 anos.
A outra paciente era a mulher com maior tempo entre os primeiros sintomas e o óbito, o longo tempo de internação poderia possibilitar um esclarecimento do vírus presente nas células periodontais.
Os cientistas constataram que a saliva e o fluido das fendas gengivais são fontes de vírus humanos na cavidade oral.
No entanto, nos casos apresentados, a infecção viral parece ter um padrão antigo, sugerindo que mesmo em pacientes com evolução prolongada da doença, a infecção viral no tecido periodontal persiste.
“A presença de uma alta carga viral de SARS-CoV-2 na saliva logo após os sintomas de COVID-19 já é conhecida . Semelhante ao que encontramos, To et al. também relataram que partículas contagiosas de RNA viral ainda podiam ser detectadas em amostras de saliva de alguns pacientes por 20 dias ou mais após os primeiros sintomas. Nossos dados mostraram RNA viral de SARS-CoV-2 em tecido periodontal até 24 dias após os primeiros sintomas em alguns pacientes”, dizem os pesquisadores.
Os pesquisadores dizem ainda que “A detecção do RNA SARS-CoV-2 nos tecidos periodontais chama atenção para as possíveis implicações do tratamento periodontal para pacientes com COVID-19”.
De acordo com o estudo, o desbridamento supra e subgengival, mesmo sem geração de aerossol, pode ser eventos potencialmente contaminantes. Descamadores ultrassônicos, seringas de ar-água e peças de mão para terapia de manutenção e planejamento radicular são mais propensos a facilitar a transmissão devido ao spray que pode conter partículas em gotículas de saliva, fluido gengival crevicular, sangue e outros detritos.
Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, EUA) recomendam que as clínicas odontológicas priorizem consultas urgentes e sigam os estritos protocolos de biossegurança.
Os médicos e a equipe odontológica devem estar cientes da importância do uso de equipamentos de proteção individual, desinfecção e esterilização.
“Este é o primeiro estudo a realizar autópsias orais minimamente invasivas e mostra que o tecido periodontal parece ser um alvo para SARS-CoV-2, podendo contribuir por muito tempo para a presença do vírus em amostras de saliva”, conclui a pesquisa.