Relatório internacional aponta que uma a cada seis mulheres desenvolve a doença
De acordo com dados recentes da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês), publicados neste ano, uma em cada seis mulheres desenvolve câncer de pulmão. O aumento dos casos da doença evoluiu para 5,3% ao ano, dado alarmante que pode estar relacionado, entre outros fatores, à exposição ao tabaco.
Traços biológicos, sociais e genéticos podem ser as causas combinadas de um resultado endossado por pesquisas médicas: o risco de desenvolver câncer de pulmão é maior nas mulheres quando comparado aos homens. No entanto, especialistas alertam: a doença atinge os homens em maior proporção. Isso porque, segundo eles, o tabagismo, que é a principal causa para desenvolver o tumor – embora não única – é mais presente no sexo masculino.
“O câncer de pulmão acomete mais os homens, porém, o risco de mulheres terem a doença – corrigidos outros fatores de risco – é maior. Apesar disso, as causas não são claras. Acredita-se que existam fatores genéticos, hormonais e comportamentais agindo em conjunto”, afirma a médica Denise Leite, oncologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO).
De acordo com os pesquisadores do IARC, um em cada oito pacientes nunca fumou. A incidência pode estar nestes casos associada ao fumo passivo, em especial em mulheres com menos de 55 anos, o que também indicaria uma “sensibilidade” biológica maior a alguns elementos cancerígenos da fumaça, assim como a poluentes presentes no ar das grandes cidades.
Para a médica, o fumo passivo, que também aumenta o risco de câncer de pulmão, entra na equação de risco. “E pode responder pelo aumento dos casos de câncer em mulheres, mas o risco é multifacetado e existe uma ligação intrínseca associada ao sexo, independente do tabagismo – embora, ressalte-se – o tabagismo seja o principal fator de risco conhecido”, diz.
Já Tércia Reis, oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), aponta as diferenças de costumes entre os dois gêneros como causa principal para o resultado da incidência da doença, que é maior entre os homens do que entre as mulheres, apesar do fator de risco ser o contrário.
“As diferenças no hábito de fumar entre os homens e as mulheres refletem as mudanças epidemiológicas na incidência de câncer de pulmão. Com o aumento do tabagismo em mulheres para níveis muito semelhantes aos dos homens, houve um aumento na incidência de câncer de pulmão. Com a diminuição contemporânea do tabagismo, a incidência de câncer de pulmão atingiu um platô e diminuiu ligeiramente nos homens. Nas mulheres, o aumento na taxa foi substancialmente atrasado”, informa.
Tabagismo
Os fumantes apresentam probabilidade 22 vezes maior de morrer por neoplasia de pulmão do que os não fumantes. Além disso, mulheres passaram a fumar cerca de 20 anos depois do que os homens por questões culturais e, por isso, apenas nos últimos anos foi possível estabelecer uma relação de impactos diferentes na incidência de câncer entre fumantes dos dois gêneros.
No Reino Unido, o índice de câncer de pulmão caiu nos últimos anos em 44%, mas cresceu 69% em mulheres justamente porque, assim como começaram a fumar depois, também decidiram parar mais tarde. Nos anos 80 a média era de quatro homens com câncer de pulmão para uma mulher. Atualmente já está em 1 para 1.
Para Denise, o fato de as mulheres, social e historicamente, terem começado a fumar mais tardiamente que os homens refletiu no aumento dos casos de câncer de pulmão em determinados momentos históricos hoje equiparados.
O diagnóstico conforme a médica, ainda é, na maioria das vezes, feito em estágios mais avançados da doença e é uma minoria o número de casos diagnosticados em fases iniciais.
“Com os métodos de screening que vêm sendo desenvolvidos nos últimos anos (tomografias para pacientes tabagistas a partir de determinadas faixas etárias) aumenta-se lentamente a taxa de pacientes diagnosticados mais precocemente”, comenta.
Causa de Mortes
Segundo o relatório da Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer (IARC), é importante conscientizar a população sobre o risco do tabagismo e a exposição passiva do cigarro, pois o câncer de pulmão é a principal causa de morte de homens e mulheres em 28 países.
No entanto, segundo dados registrados pelo Ministério da Saúde, no Brasil a doença é, atualmente, a primeira causa de morte por neoplasia em homens e a segunda entre as mulheres.
Em 2009, a estimativa de casos novos nos Estados Unidos foi de 219.440, sendo que destes, 47% eram mulheres. A estimativa de morte neste mesmo ano foi de 159.390 neste país, onde 44,2% eram do sexo feminino. Desta forma, essa enfermidade é responsável por 26,12% de mortes por câncer em mulheres.
Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física são os cinco principais motivos que levam as pessoas a serem mais propensas a desenvolver algum tipo de câncer. Quanto ao risco da doença no pulmão, a principal medida para combatê-lo, independente do sexo, são duas: prevenção e interrupção do tabagismo.
“O tabagismo é o maior fator de risco conhecido para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Ele está diretamente envolvido em 90% dos casos”, alerta Denise.
Tércia também é taxativa quanto à prevenção: “O controle do tabaco pode prevenir mais mortes por câncer do que qualquer outra estratégia de prevenção primária”, conclui.